Planeamento Vs Programação: qual o papel do APS?
Você sabe qual o papel do APS? Há basicamente dois grandes processos abrangidos pelo APS, o Planejamento e a Programação. E com muitas vantagens, devido ao fato de ele permitir a realização de planos de produção de curto a longo prazo percorrendo toda a cadeia produtiva e considerando praticamente todas as variáveis e restrições do ambiente produtivo.Alguns termos podem estar relacionados ao mesmo assunto, como Softwares de Planejamento Fino da Produção ou Sistemas de Programação Finita, assim como “Advanced Planning Systems” em inglês. Veja mais sobre a origem do APS!Se analisarmos os principais processos da Gestão da Cadeia de Suprimentos, encontraremos a configuração abaixo, na qual é possível identificar onde se encaixam as soluções voltadas ao Planejamento e à Programação.[caption id="attachment_2686" align="aligncenter" width="1024"]
Gestão da Cadeia de Suprimentos (Supply Chain) e APS[/caption]
O Planejamento de Produção com APS
Muitos podem imaginar que uma solução APS tem foco exclusivo nos processos de Programação Detalhada de Produção (as suas primeiras versões não contemplavam o Planejamento, ou pelo menos não com capacidade finita, fazendo com que a percepção do conceito APS ficasse atrelada apenas ao processo de Programação Fina - Scheduling), porém um APS completo abrange muito mais do que isso. O processo de Planejamento da Produção tem basicamente o objetivo de definir o que produzir em cada período de planejamento e em que quantidade, o que é representado pelo Plano Mestre de Produção.Ele tem como base a demanda real e/ou prevista para cada período de um horizonte, podendo variar de semanas a meses, e as políticas de estoque e atendimento que cada produto possui (estas políticas acabam sendo utilizadas principalmente por empresas que produzem para estoque, porém empresas que produzem contra pedido também necessitam fazer o seu Planejamento).Este processo normalmente é realizado através dos próprios softwares ERP que, como já vimos, possuem suas limitações em relação à restrição de capacidade produtiva para gerar estes planos de produção. Como no Planejamento trabalhamos com uma visão mais macro e menos detalhada dos recursos (não importa, necessariamente, como aquela produção será executada dentro de cada turno e de cada dia, mas sim quanto se irá produzir naquela semana de cada produto), estas limitações são portanto menos críticas.Ainda assim, se alguma regra de negócio for necessária, se os gargalos puderem ser dinâmicos, ou se a variedade de volume de SKUs for muito alta, outras restrições não facilmente gerenciáveis pelos ERPs podem surgir.Vale lembrar que o processo de Planejamento (em inglês normalmente atribuído ao Master Scheduling), por definição, é posterior ao S&OP, o Planejamento de Vendas e Operações Integrado (Sales & Operations Planning). Mesmo assim, este pode se relacionar estreitamente com o APS por dois motivos: primeiramente, pela característica do S&OP de utilizar um horizonte longo, o que gera uma necessidade maior de simulação de cenários frente às incertezas futuras; assim como o Planejamento de Recursos, o qual interage com o S&OP e necessita enxergar a capacidade produtiva.Como o APS tem toda a sua dinâmica baseada nesta geração de cenários e gestão de capacidade, ele pode apoiar, e muito, o planejamento colaborativo de vendas e operações.A diferença em como o APS atuará em cada um desses dois processos consiste, basicamente, no nível de granularidade de cada um, tanto pela sua posição no ciclo dos processos de Supply Chain, quanto pelo seu objetivo.CaracterísticasAPS (Planning) -> S&OP
APS (Planning) -> MPS
Horizonte
Horizonte de 3, 12 ou mais meses
Horizonte de 1 a 3-4 meses
ObjetoFamílias de Produto
SKU
Gestão de RestriçõesApenas a(s) mais crítica(s)
Mais restrições
Enquanto o S&OP enxergará um horizonte mais longo para apoiar o nível tático e estratégico, provavelmente analisando famílias de produtos, o MPS trabalhará com um horizonte vinculado ao máximo lead time acumulado de fornecimento (ou seja, o caminho mais longo em tempo traçado entre a compra, produção e entrega de um produto).Se estivermos falando de um Production Planning para suportar um processo de S&OP, poderíamos nos dar o luxo de enxergar apenas as restrições mais críticas e trabalhar com as previsões de vendas por família, que posteriormente seriam desagregadas em SKUs (Stock Keeping Unit, ou simplesmente um produto). Isso basta pois, do ponto de vista de capacidade, o objetivo é ver o quanto a mesma será consumida pelo volume previsto de vendas e se alguma ação é necessária para modificá-la ou rever o plano de vendas.Se buscamos suportar o próprio MPS (Master Schedule), olharemos o nível acabado por SKU, o qual gera o MPS formal, e logo explodiremos esta demanda nos demais níveis das estruturas de produto para definir o que deve ser produzido e comprado, avaliando os impactos em capacidade que possamos ter em cada período de planejamento e tomando ações para adequar capacidade e demanda nesse período em questão. Neste processo, simplificações que foram feitas lá no S&OP podem vir à tona aqui, evidenciando restrições e ociosidades que possam ter passado desapercebidas e que terão impactos significativos na operação.A explosão de necessidades de materiais, caracterizada pelo MRP/MRPII da bibliografia tradicional, poderia estar aqui somente no nível de planejamento. Porém entendemos que, devido ao dinamismo que a gestão de materiais possui atualmente, não se pode mais pensar no MRP, mesmo com capacidade finita, sem considerar que ele deve suportar um processo de curto/médio prazo, recalculando as necessidades a partir das revisões de planos que a Programação Fina realiza. Por isso, ele fica englobado em ambas soluções.
A Programação de Produção com APS
O processo de Programação de Produção (Production Detailed Scheduling) parte dos volumes a produzir definidos previamente no MPS, ou, simplesmente, de demandas contínuas de pedidos de clientes para indústria MTO (make-to-order), com o objetivo de definir em detalhe quando será produzida cada demanda e (eis o principal ponto crítico desse processo) "como".Aqui serão sequenciadas cada uma das operações necessárias para fabricar um produto acabado ou, pelo menos, as principais, caso os gargalos desses processos sejam estáveis e definidos. Como o APS eleva o grau de precisão desse processo, passamos a chamá-lo de Programação Fina. Vejamos os seus elementos.Antes de qualquer coisa, é importante saber o que será programado, o que chamamos de Objeto de Programação. Cada empresa tem a sua maneira de gerenciá-lo, mas a nomenclatura mais padrão é a Ordem de Produção (OP) ou Fabricação. Ela foi criada a partir do MPS que vimos anteriormente, ou até mesmo pelo MRP. Porém, uma OP não é apenas o reflexo das necessidades líquidas oriundas do MPS e MRP. Aqui devem ser aplicadas políticas de produção, como informações de lotes mínimos, múltiplos e máximos permitidos pela área industrial para execução de cada processo. Ou seja, o MPS pode gerar uma necessidade de produção de 5000 unidades de um produto para um determinado período, porém se o lote máximo é 2500 unidades, teremos duas Ordens de Produção.Caso o APS receba uma Ordem de Produção de 5000 e precisamos que ele divida a mesma, é totalmente viável realizar esta divisão. No entanto, a complexidade para gerenciar a integridade da informação entre sistemas, necessitando explicar para o sistema que realiza o controle da produção ou para o próprio ERP que aquela ordem foi dividida e agora cada uma pode seguir um caminho diferente e precisa ser gerenciada individualmente, faz com que seja mais eficiente realizar essa divisão já na sua origem, ou seja, na geração da própria OP (no sistema que for).Idealmente, a programação aloca as demandas em forma de ordens de produção nos recursos produtivos (uma máquina ou posto operativo mesmo), de acordo com heurísticas e simulações distintas, dependendo do objetivo (por quê heurística e não otimização?!). Com isso, cada recurso recebe a sua lista de ordens a produzir, com a sequência exata a ser seguida.Como principais características do APS clássico para Programação Fina, pode-se destacar:
- Capacidade finita: neste caso, são consideradas as reais capacidades dos recursos, ou seja, aloca-se trabalho aos recursos somente até o seu limite;
- Restrições finitas: para retratar fielmente a produção, a programação considera todas as restrições operacionais existentes na produção, como limitações de ferramentas, operadores, matrizes, bitolas, energia elétrica, entre outros;
- Uso de capacidade dependente da sequência: a maneira como a capacidade será consumida deve variar de acordo com a sequência, desde a variação dos tempos de Setup Interno até a distinção de eficiência entre máquinas capazes de realizar uma mesma operação;
- Gestão de materiais: a interdependência entre a produção e a disponibilidade de materiais precisa ser considerada, enxergando os estoques disponíveis para alocação nas ordens de produção que os consumirão, assim como as chegadas previstas de mais materiais e as restrições e prioridades de alocação que estes podem ter;
- Relacionamento entre ordens: as ordens de produção podem ser interligadas de maneira estática ou dinâmica, garantindo assim um melhor controle sobre a produção;
- Reprogramações: em função de imprevistos e alterações na produção, estes sistemas permitem fazer reprogramações instantâneas, a fim de manter toda a empresa atualizada. Isso pode ser tanto em uma revisão semanal do que será produzido em acordo com as demais áreas da empresa, através do S&OE, quanto uma mudança pontual devido a uma emergência;
- Simulações de cenários: pelo fato de demonstrar a realidade da produção da empresa, é possível simular análises de performance e dos custos envolvidos com o uso de horas-extras, terceirizações, compras de equipamentos, divisão de lotes, etc.;
Resumo comparativo entre as duas partes de uma solução APS
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APS Planning and Scheduling[/caption]Avaliando o todo, entendemos que hoje já se tem tecnologia suficiente para fazer um processo cada vez mais integrado. Não há motivos para realizar um MPS olhando capacidade finita no que tange o produto acabado, considerando apenas um gargalo escolhido, e depois explodir as demais necessidades por MRP, sem enxergar outras restrições.Assim como devemos entender que mudanças em demanda e fornecimento ocorrerão e a necessidade de realimentar o fluxo de maneira veloz e assertiva é crescente. Fazíamos assim nos anos 80 e 90 pois não havia alternativas eficazes o suficiente. Hoje é diferente. Esta evolução não é um processo rápido, porém é imprescindível para quem busca ter uma gestão da cadeia de suprimentos ágil e eficiente.Mas e então, gostaria de saber mais sobre Supply Chain, APS e outros conteúdos? Acompanha o Blog da NEO e veja, além desse conteúdo, mais informações ligadas à Engenharia de Produção.Aproveite e nos siga no LinkedIn e demais redes sociais para acompanhar mais novidades.[noptin-form id=2822]